INTRODUÇÃO:
O Lockheed Vega foi um dos mais avançados aviões em sua época. Foi criado pela Lockheed que queria fundar sua própria linha aérea e o mesmo serviria de avião leve e ligeiro para linhas de pequeno porte. Apesar de pequeno, com capacidade para no máximo 6 passageiros era muito rápido. Pode-se dizer que foi o pai dos táxis-aéreos.
O Vega era construído em madeira, com um sistema que não entendi muito bem (ver Wikipedia), mas que criava um conjunto asa/fuselagem muito limpo e robusto. Sua estrutura era extremamente leve e limpa, sem rebites e as asas não necessitavam de montantes. Enfim, o Vega era o "estado da arte" da construção de aviões em seu tempo.
No entanto, sua fama não veio do sucesso nas linhas aéreas, mas do seu uso para quebra de diversos recordes. Amélia Earhart foi a primeira mulher a cruzar o Atlântico em voo solo usando um Vega (Lady Lindy). Outro evento famoso foi a "volta ao mundo em aeronave não preparada" por Harold Gatty e Wiley Post, com a Winnie Mae. Posteriormente Post vez outra volta ao mundo, em sentido oposto, sozinho. Para tais tentativas, eram retirados as poltronas de passageiros e colocados galões extras de combustível no local.
O Vega teve uma produção de 132 exemplares, o que, acredito eu, seja uma quantidade razoável antes do boom da aviação pós-WWII. Ainda hoje, seu desempenho é comparável aos pequenos aviões de sua categoria.
O MODELO:
Esse modelo é disponibilizado pela MPM, uma empresa tcheca, em duas versões. A civil e a militar, do exército americano. Aparentemente, os moldes são iguais, sendo que a versão militar não usa as polainas, e os decais. Na versão civil, há decais para fazer os famosos Lady Lindy e Winnie Mae. Curiosidade: também nessa caixa há os tambores de combustível, para fazer a versão dessas grandes travessias.
O plástico é bem injetado, mas parece ser de estireno reciclado (mais poroso), mas que não é ruim. As instruções, simples, são feitas em CAD e há diversas peças para fazer várias variantes do Vega. O kit é bem pequeno - mesmo sabendo que 1/72 é pequeno, esqueci o quanto o era. Se soubesse, teria arriscado em comprar o Lindberg na 1/48, mas no fim das contas, acho que foi uma boa escolha (explico mais no final).
MONTAGEM:
O kit possui poucas peças e a bem da verdade, as instruções, mesmo sendo em CAD, são bem confusas. Na verdade, só não são um caos completo, por falta de peças...
Para começar, o interior. O kit traz as poltronas para fazer a versão civil, embora não as fosse usar. Se fosse, não há indicação de como eram colocados. Os tambores, pelo posicionamento ficam meio tortos, mas não há explicação de como devem ficar. O cockpit é bem simples e não vale a pena detalhar, pois o canopi é pequeno e há muitos frames, que encobrem uma boa visão.
Nenhuma peça possui pinos de encaixe e o modelista deve estar preparado. A fuselagem encaixa-se relativamente bem. Segundo as instruções, dependendo da versão, deve-se encobrir algumas janelas laterais, mas nunca fica claro quais. Há uma peça para fazer a porta aberta, mas as instruções não dizem para abrir, opcionalmente, a fuselagem. Além disso, as janelas laterais não entram nos vãos das mesmas. Por isso, usei o Acrílico para artesanato para fazer tais janelas.
A empenagem não possui guias para encaixe e as três peças devem ser alinhadas empiricamente. As duas metades da asas encaixam-se bem, mas o alinhamento com a fuselagem é meio complicado. A asa deve ser alinhada a partir do encaixe do canopi, sendo que fica um espaço que precisa de massa para fechar.
A parte frontal também é confusa. Primeiramente há uma peça que serve de encaixe do motor com a fuselagem. Essa peça é visivelmente menor que a fuselagem. Não parece ser errada, mas não é dito como essa folga deve ser distribuida (alinhada por cima, por baixo, etc). Outro problema é cownling do motor. Segundo as intruções, não há nenhuma peça com a qual ele se encaixe, ficando "flutuando" entre o motor. A solução para deixar alinhado, foi pegar dois pequenos pedaços de lata-etched e colar sobre cilindros opostos do motor, de modo que a peça pudesse ficar apoiada para colar. A hélice não gira.
Apesar disso, a montagem do kit não exige muito até aqui. O ideal é pintar a fuselagem separada do conjunto do trem-de-pouso para facilitar o polimento da pintura brilhante. O trem-de-pouso é o pesadelo do alinhamento para um modelista. Formato tripé com peças que não se encaixam. As três pernas possuem alguns pinos, os quais não servem para nada. Ou não há ponto de encaixe, ou são muito grandes. Além disso, falta uma referência sobre o ângulo do conjunto. Se for montado conforme a instrução, pode parecer uma girafa ou um sapo. As pernas principais, com base em fotos, foram cortadas em cerca de 4 mm, para deixar o conjunto mais harmônico. As pernas inferiores são no tamanho da peça, mas os pinos precisam ser cortados, para melhor encaixe. As pernas diagonais também precisam ser cortadas para não empurrar o conjunto para frente.
Para o kit ficar alinhado com o solo, uma dica. As polainas devem ser montadas em separado das rodas. As rodas podem ser encaixadas depois e o espaço para o mesmo é bem estreito, de modo que nem é necessário cola. Assim, após montar o conjunto do trem no avião e verificar o quê precisa ser alinhado, ajuste as rodas pouco mais para dentro ou para fora da polaina. O resultado fica bom e a diferença de encaixe da roda nas polainas é imperceptível.
PINTURA:
O kit não apresenta muitos desafios. A pintura que eu escolhi foi a do Winnie Mae, que achei muito mais atraente que o vermelhinho da Amélia. Basicamente várias demãos de Duco Branca, necessárias para uma boa cobertura e não lacear no polimento. Quanto ao polimento, cuidado ao fazê-lo na empenagem, pois as peças da mesma são quase sem apoio.
A parte superior da asa é pintada de azul na parte interna. A dificuldade aqui é usar balizas para o mascaramento. Eu use fitas nas partes retas, baseando a distância da borda como base e as partes curvas, próximas as pontas, eu fiz com base em uma ampliação em escala da folha de instrução (para cortar a fita). A instrução traz os FS dos azuis usados, mas não me estressei muito com isso.
DECAIS:
Aqui, outro caos. Há pelo menos quatro versões de pintura; 3 para a Winnie Mae e 1 para a Lady Lindy. Todas muita confusas. Há decais que não aparecem em nenhuma versão. Há decais na instrução que não existem (ou são diferentes) na folha de decais e alguns decais da arte da caixa não existem no kit. Enfim, ou você se preocupa demais com a perfeição e vai atrás de fotos reais (de preferência de época, pois há dois modelos diferentes do Winnie Mae em museus) ou você usa da licença poética e usa os decais que preferir. Eu acabei optando pela segunda opção.
Os decais são bem finos e não há borda de filme para cortar, o que facilita a aplicação. O mais complitado, para variar, são as duas bordas ao redor do cownling, que como todo kit de avião civil, não se alinham com a curvatura da peça. Felizmente, o decal é bem sensível ao amaciante de decais e o processo de "derretimento" deixa o mesmo praticamente rente à curvatura. No entanto, é necessário uns retoques com pincel ou aerógrafo para não ficar partes faltando da pintura.
CONCLUSÃO:
O kit não é complicado demais, mas também não é simples. Não o recomendo para iniciantes, pois a montagem vai deixar a desejar. Na verdade, esse tipo de kit não é bem do meu interesse de montagem (gosto dos bombardeiros gigantes), mas o avião é elegante e uma bela peça de exposição. Além disso, tenho um fetiche por aviões de polaina e desde que vi esse kit fiquei com vontade de montá-lo. Por fim, a escolha do kit em 1/72 foi boa, pois dá para fazer uma trilogia estrelar da Lockheed, pois há ainda os Lockheed Sirius e Orion, todos muito bonitos e ficarão bem lado-a-lado.
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