Quando comecei a encontrar matérias que só elogiavam o kit lançado pela Tamiya do biplano Fairey Swordfish Mk. I escala 1:48 fiquei interessado pelo avião, mesmo não sendo aviões o meu foco no modelismo. Acompanhei durante certo tempo as referidas matérias e alguns kits que foram aparecendo montados, uns com asas abertas, outros com asas recolhidas, uns camuflados e outros em cinza/alumínio. Quase todos utilizavam o também recém-lançado conjunto de photo etched para adicionar mais riqueza ao já muito bem detalhado kit.
Mas minha decisão de montar um só veio quando a Tamiya lançou o Swordfish Floatplane. Imediatamente um diaorama se contruiu na minha cabeça. Apartir disto a primeira providência foi adquirir o kit e o photo etched a salgados reais. Já havia resolvido montar o avião com o esquema clamuflado de pintura.
Ao abrir o kit e ler as instruções o primeiro problema chegou - as referências de cores. Como eu nunca tinha montado um avião inglês não tinha a menor idéia se as cores indicadas pela Tamiya eram confiáveis (eles indicaram para a camuflagem Gray violet e RAF Dark Green). Não sou nenhum especialista mas usar o Gray Violet, uma cor alemã - RLM 74 - num avião inglês é no mínimo estranho. Percebido esta falha, fui pesquisar.
Foram meses de pesquisa nas horas vagas até chegar a um consenso. Contei com a ajuda de alguns modelistas, principalmente do Lincoln de Curitiba e do João Augusto de Florianópolis, ambos excelentes referências, principalmente o João, que tem por especialidade a RAF.
Tentarei de forma simples colocar o pouco que aprendi:
O Swordfish era conhecido como "Saco de Cordas" devido à grande quantidade de cabos aparentes que ele possuía. Ele entrou em serviço em 1936 na Fleet Air Arm - FAA (e não na RAF) operando basicamente em porta-aviões. Foram desenvolvidas três versões: Mk.I, Mk.II e Mk.III, sendo fabricados um total de 2396 aviões ( 989 Mk.I, 1080 Mk.II e 327 Mk.III). Mais uma versão foi produzida, o Mk. IV, que era o Sword Mk.II com o canopi fechado para a Real Força Aérea Canadense (um total de 110 produzidos). Sua estrutura era metálica, com cobertura em metal e tela. Seu armamento fixo era uma metralhadora Browing 7.69mm localizada no lado direito à frente do piloto e uma Lewis K 7.69mm localizada à ré. Os armamentos móveis incluiam 3 bombas de 227kg ou um torpedo de 730kg. A tripulação era composta por 3 pessoas. O Mk.I desenvolvia até 246km/h, teto máximo de 5900m e alcance de 1700km. Seu motor era um Bristol Pegasus IIIM de 690hp e suas dimensões eram 13,87m de envergadura e 10,87m de comprimento.
O Sword equipou 31 esquadrões de linha de frente e 59 esquadrões de retaguarda. O kit montado representa uma aeronave do 765º esquadrão, um esquadrão de retaguarda. Este esquadrão foi formado na FAA em 24 de Maio de 1939 em Lee-on-Solent sob o comando do Lt. Cdr. Herbert Charles Ranald. O esquadrão era na verdade uma escola de treinamento para operações aéreas no mar - ensinava operar aviões para utilização em catapultas e técnicas de sobreviência no mar. Utilizava principalmente os Walrus, tendo alguns Sword em seu efetivo. Em Setembro de 1940 o esquadrão foi deslocado para Sandbanks onde veio a ser uma escola de treinamento básico de aviões marítimos (seaplanes), ensinando apenas a primeira de três estapas do treinamento. Em 25 de outubro de 1943 o esquadrão 765 foi desativado.
Apesar de o Sword fish já ter nascido obsoleto ele se mostrou muito efetivo nas missões em que fora designado. Duas operações foram de exterma importância no teatro da guerra, e tiveram como atores principais o Saco de Cordas. Em 11 de Novembro de 1940 duas levas de 21 Swordfish decolando do porta-aviões HMS Illustrious afundaram 4 embarcações italianas e danificaram outra, com a perda de apenas 2 aviões. Em 25 de Maio de 1941 15 Sword decolaram do porta-aviões HMS Ark Royal para atacar o poderoso encouraçado alemão Bismark. ele não foi afundado, mas um certeiro torpedo imobilizou o leme do couraçado, que foi presa fácil da marinha inglesa no dia seguinte.
Bem, passado o pequeno histórico, voltemos ao kit.
Como falei no início, a primeira dificuldade foi nas cores. A FAA, de 1938 a 1945, utilizou com camuflagem o padrão Temperate Sea Scheme (Esquema Mar Temperado, com alusão ao clima da região), onde as cores eram:
- Extra Dark Sea Grey (EDSG) - superfícieis superiores das asas superiores
- Dark Slate Grey (DSG) - superfícies superiores das asas superiores
- Sky Grey - superfícies inferiores das asas e da fuselagem, bem como superfícies laterais da fuselagem (acima da linha de cintura) e leme.
- Dark Sea Grey (DSaG) - superfícies superiores das asas inferiores
- Light Slate Grey (LSG) - superfícies superiores das asas inferiores
Bois bem, agora... onde encontrá-las?!?! As referências que encontrei tendo como base o Federal Standart (FS) eram em muitos casos desencontradas. A que mais se aproximava foi encontrada na página da FAASIG, que dá a receita para chegar nas cores usando as tintas, vidros e pipetas Model Master:
- Extra Dark Sea Grey (EDSG) - uma pipeta pequena* de Flat Black em um vidrinho de Gunship Grey
- Dark Slate Grey (DSG) - uma pipeta grande** de Flat Black em um vidrinho de SAC Bomber Green
- Sky Grey - uma pipeta pequena de Flat Black em um vidrinho de Light Grey
- Dark Sea Grey (DSaG) - retire uma pipeta grande do vidrinho de Gunship Grey e adicione a ele duas pipetas grandes de Flat White
- Light Slate Grey (LSG) - uma pipeta grande de Flat White num vidrinho de SAC Bomber Green
(*) pipeta pequena: é apenas o tubo da pipeta, sem contar o bulbo; (**) pipeta grande: o tubo com o bulbo cheio.
Outro problema foi a cor do interior. De fato não encontrei nenhuma referência cabal sobre isto, mas a maioria das orientações apontavam a tinta Humbrol 78, que foi a que eu utilizei. As outras cores indicadas na instrução eram de fácil acesso e foram utilizadas em sua maioria.
Além do site da FAASIG, encontrei em outros sites boas referências:
- Fleet Air Arm Archive 1939-1945
- Internet Modeler
- IPMS Norway
- Walk Around Aircrafts
- Modeling Madness
- Flights of Fantasy
Outras referências usadas foram: O João Augusto, o Lincoln Borges, o Mark Horan, as revistas: ASAS #4, REPLIC #100, MILITARY IN SCALE 11/2000, MODEL MAGAZINE INTERNATIONAL 01/2000, SWORDFISH IN ACTION.
A MONTAGEM:
A montagem do kit, no geral, é excelente. Não há muito que se falar: apenas siga as instruções. Um dica que dou: leia a instrução toda várias vezes antes e ao longo da montagem. E para quem optar em fazê-lo com as asas recolhidas e/ou utilizar o photo etched muita atenção às indicações dos buracos a serem feitos.
No meu caso apenas um problema (grave) de montagem foi detectado: no passo 21, os suportes do flutuadores são colocados (peças J1, J8 e J4). A peça J4 é encaixada em buracos já marcados pela Tamiya, bem como as outras duas traseiras. A possibilidade de colá-las invertidas ou trocadas é nula, já que os encaixes, desenho e perfil são únicos, não permitindo enganos. O problema foi quando cheguei ao pesso 23 - a colocação dos flutuadores. Estes vêm em três peças, fáceis de montar e também sem possibilidade de erro, pois os buracos de encaixe nos flutuadores já vêm no kit. Pois bem, coloquei os flutuadores e... buá! Visto de cima eles não ficavam paralelos, convergiam. Por um momento fiquei pasmo, pois a Tamiya não poderia ter feito isto. Revi todos os passos, as montagens, encaixes, tudo estava correto, conforme a instrução. Descolei tudo, fiz tudo novamente e... convergência novamente. Não era pouca a convergência. estudei de todas as formas o que estava errado e a única explicação que encontrei era que a peça J4 estava com os suportes inferiores mais curtos do que o necessário. Para abrir o ângulo de convergência faltariam mais ou menos 6mm em cada lado, um absurdo. Bem, eu poderia dizer que ficou tudo correto mas não posso. Serei sincero o bastante: instalei um artifício na peça J4, como mostra na figura abaixo:
Esta é uma falha grave detectada no meu kit, e espero que se você for montar um Sword com flutuadores, não encontre este erro. Eu sei que a armação que eu forjei tira a originalidade do kit, mas quem garante que isto não foi feito em algum avião avariado durante a guerra?!!! Além disto, como é embaixo e um pouco escondido pela hélice, a modificação não fica tão aparente, mas os flutuadores ficam paralelos, que é o que interessa. Tive de fazer uma escolha: um pequeno pino na barriga do Sword ou dois flutuadores escandalosamente convergentes.
A PINTURA:
Com as tintas feitas primeiro apliquei o Sky. Em seguida fiz máscaras com papel cartão e colei com fita crepe enrrolada, de forma que o papel ficou a cerca de 2mm da superfície do kit. Então apliquei o Dark Slate Grey. Em seguida marcarei com o mesmo método as áreas que ficariam verdes e apliquei o Extra Dark Sea Grey. Nas asas inferiores os biplanos com este esquema tropical utilizavam tons mais claros dos das asas superiores, para haver a compensação por conta da sombra produzida. Mesma coisa: apliquei o Light Slate Grey, mascarei e depois o Dark Sea Grey. As demais peças foram pintadas conforme as referências, e no cowling (peça que cobre o motor) apliquei Gold da Humbrol e Silver da Testors, polindo em seguida com grafite. Nos flutuadores pintei as faixas em vermelho escuro ao invés de aplicar os decais que a Tamiya indica. Há possibilidade de você pintar mais marcações ao invés de aplicar os decais, mas sinceramente fiquei com perguiça. Após toda a pintura apliquei verniz acrílico automotivo para dar um tom acetinado à pintura. Ainda não apliquei nenhuma técnica de envelhecimento, o que será feito após a confecção da base para compor o diorama por mim planejado. Mas isto é para mais tarde.
A base foi feita utilizando-se o verso de um quadro-poster e laterais em papel cartão 5mm. Para reproduzir o relevo, foi usado gesso e pequenas placas de isopor. Após ter finalizado o relevo, apliquei um farelo de pedras utilizado em maquetaria, para simular a pequena faixa de praia. Aerografei então todo o terreno, utilizando na praia tons de areia e cinza, e no fundo do mar um degradê do cinza claro ao preto, ficando a cor mais escura na área onde seria a parte mais funda do mar. Esta cores foram utilizadas levando-se em consideração o ambiente original de operação do Swordfish: a costa britânica. Em seguida fiz o trapiche com uma vareta de cabide de roupas, que simularia as estacas, e chapa de estireno. Na chapa de estireno fiz o desenho em baixo relevo, para simulação das tábuas. Pintei tudo em tons de marrom e cinza e fixei na base. O próximo passo foi a aplicação da resina para simular a água (este passo está detalhado aqui). E o acabamento na base foi feito aerografando as cores Extra Dark Sea Grey e Dark Slate Grey, como na camuflagem do avião. As figuras (na verdade a tripulação do Sword) foram então pintadas e coladas no trapiche, e simuladas varas de pesca com arame fino. O fio de pesca foi feito com fio de costura industrial.
Qualquer dúvida, crítica ou sugestão, me escreva.
FICHA TÉCNICA:
- Kit: Fairey Swordfish Floatplane with photo etched set, Tamiya, escala 1:48.
- Tintas: Humbrol 16 (gold), Humbrol 78 (cockpit green), Testors Silver Arg (1145), Racing Colors Fire Extinguisher Red (52742), Testors Flat Black (1749), Tamiya XF-10 (flat brown), Model Master Chrome Silver (1790), Model Master Gunship Grey (1723), Model Master SAC Bomber Green (1793), Model Master Flat White (1768), Model Master Light Grey (1732), Testors Rust (1185), Tamiya XF-57 (buff), Tamiya XF-62 (olive drab), Testors Yellow (1514), Verniz Acrílico Automotivo.
- Tempo de montagem: muito.
- Grau de dificuldade: intermediário. Os maiores problemas são os encaixes das asas no suporte central e a colocação do photo etched.
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