HISTÓRIA:
O He-219 Uhu (Coruja) foi um avião que sofreu, principalmente, por decisões políticas da época. O modelo era mais do que fôra especificado, para a requisição de um bombardeiro rápido, mas sofria do favorecimento da certos setores da Luftwaffe em favor da Junkers. O avião tinha características inovadoras como o trem triciclo e cabine bem à frente da aeronave, com excelente visão pelo piloto (fato ainda melhorado pelas linhas limpas do canopi). Além disso, possuia assentos ejetáveis e cabine pressurizada.
No entanto, a devido à politicagem, seu desenvolvimento foi lento, arrastando-se até o final de 1942. Nessa época, a ameaça dos bombardeiros noturnos tornava-se cada vez mais evidente e não havia modelos apropriados combatê-los. Assim, vários aviões foram adaptados às pressas, como o Bf-110 e Ju-88. O He-219, pode-se dizer também que foi adaptado nesse interim. O diferencial é que ele acabou nunca operando como bombardeiro, como projetado, passando diretamente à função (tanto que as séries de variantes do He-219, após a V (protótipo), são todas A).
O Uhu (coruja) não poderia ter nome mais apropriado. Extremamente eficiente na função de caça noturno, foi muito efetivo apesar de nunca ter sido produzido em grande escala. Possuia armamento pesado (variando de 4 a 6 canhões de 20mm e 30mm frontais) e passou posteriormente a usar o mortal canhão Schräuml;ge Musik (Jazz Music, devido a seu ritmo "frenético"). Esse canhão fica montado no dorso da aeronave, num ângulo de 65 graus e antigia os bombardeiros da posição mais segura possível - de baixo - já que a maioria dos bombardeiros noturnos não possuia bolha ventral (ainda que possuissem, não havia equipamento apropriado para identificação do inimigo). O canhão Jazz Music ainda possuia abafadores de chama e não usava traçantes, para não denunciar a posição do atacante. Além disso, era muito rápido e dos caças a hélice, era o mais capacitado na função de engajar o Mosquito da RAF (feito de madeira). Posteriormente, uma versão light (A6), chamada de Mosquito Hunter, foi criada somente para essa função.
Com o final da Guerra, começou a controvérsia sobre a efetividade do aparelho. Alguns diziam que sua capacidade era superestimada, pois seus motores não eram adequados, já outros diziam que seria mais efetivo que os demais se tivesse sido produzido em quantidade adequada. Na minha opinião, grande parte do mito do Uhu se valhe justamente a pertencer ao mundo do "Se...", embora suas qualidades fossem, no mínimo, equivalentes a outros bimotores noturnos. Dos pouco mais de 200 aviões produzidos, apenas um sobreviveu até os dias de hoje. Ainda assim, não está montado (embora esteja bem estocado).
MODELO:
O kit do Uhu 1/48 da Tamiya é um excelente modelo. Possui encaixes praticamente perfeitos e não exige talento do modelista. É bem detalhado, embora não possua muitas peças. Possui peças escamoteáveis para o canhão Jazz Musik e para o Radar FuG 212 (embora falte a instrução para não colá-las). O trem de pouso é bem detalhado, mas não há muitos detalhes no motor. A cabine é montada sobre uma peça metálica que faz o peso mais-que-necessário para o nariz do avião ficar baixado.
Apesar disso, esse kit ficou muito tempo na minha estante. Comprei-o e acabei sem vontade de montar. Como comecei a investir mais na minha categoria favorita (bombardeiros 1/72), acabei parando de montar outras escalas. No entanto, a etapa mensal do meu clube de modelismo era justamente Caças da Segunda Guerra, 1/48 e como esse era o único kit que tinha disponível, resolvi colocá-lo de volta na bancada.
MONTAGEM:
Como disse, o kit é muito bom. Definitivamente, delicioso de montar. O maior trabalho foi, literalmente, culpa minha. Na época havia adquirido um Detail-Set da Verlinden. Inclui um motor em resina, e detalhes para a cabine e canhões, incluindo ainda, as esteiras de balas. O uso desses acessórios implica em fazer alguns recortes na partes superior das asas, além da nacele de um dos motores. Essa foi a parte mais complicada. Na minha opinião, acho que não seria totalmente necessário. Os detalhes na cabine são modestos, e os Photo-etcheds dos canhões com um encaixe relativamente complexo e difíceis de ficarem alinhados. Mesmo o motor, que impressiona pelos detalhes, fica muito escondido.
Por falar em motores, o kit da Tamiya traz os Cowling Flaps em duas posições (aberto e fechado). Resolvi deixar um em cada posição, usando o "aberto" junto ao motor que está aberto. Detalhe que eu só prestei atenção após estar terminando. Os motores, embora tenham nacele de motor radial, são em linha, como os Fw-190.
No meu caso, ainda tive um pequeno azar. Justo na minha grade de peças, uma das asas ficou com uma bolha de ar, cujo o estireno não foi preenchido na moldagem. Foi necessária uma base de plasticard, sobre a qual apliquei bastante massa para corrigir. O local fica junto da raiz da nacele. Um ponto que, apesar de crítico, esconde um pouco de problema.
Fora isso, não há segredos na montagem. Além disso, para dar uma variada, coloquei o trem-de-pouso dianteiro virado, o que da um tchã no visual. As antenas eram giratórias e as instruções indicam que elas devam ser montadas em um ângulo de 45 graus. No entanto, verifiquei que quando no solo, a maioria das fotos indica que elas ficam perpendiculares em relação às asas. Assim, preferi fazer assim.
PINTURA E DECAIS:
A parte mais complexa do kit, é sem dúvida, a pintura. Há poucas referências coloridas do avião. Quanto as fotos P&B, a maioria é com foco ruim e por conta do contraste do azul geral (RLM76), sempre fica muito esbranquiçada, atrapalhando a pesquisa dos demais detalhes. O certo é que o esquema geral é Cinza azulado (RLM76) com manchas laterais e superiores em RLM75. No entanto, as referências sobre essas manchas são variadas. Nas reviews desse kit, que pesquisei e não são poucas, praticamente não há modelos pintados em um padrão igual a outro. Essa dificuldade se deve, penso eu, ao fato de o Uhu ser triciclo, o que deixava o dorso do avião fora do nível do fotógrafo, em terra. As raras imagens em voo também não ajudam muito.
Fiz a pintura básica RLM76/75, com manchas médias e relativamente espaçadas (pelas fotos, parecia o mais correto), no entanto achei o esquema muito monótono; sem graça para o tamanho do kit. Felizmente, com alguma pesquisa achei detalhes interessantes que resolvi aplicar no meu modelo, ainda que não achasse referências reais: Ao final da guerra, os ataques aos campos de pouso alemães tornaram-se mais frequentes. Com isso, uma pintura camuflada de listras verdes (RLM81 ou RLM83) foi aplicada sobre a parte superior dos aviões, às pressas. Isso deu uma vida nova à pintura. Foi difícil acertar o aerógrafo para fazer isso, mas o resultado, real ou não, ficou interessante. Além disso, para identificação da artilharia amiga, os Uhu, bem como outros caças noturnos, tiveram a asa inferior direita pintada de preto (dessa informação, achei a foto de apenas um avião).
Já que estava retratando um modelo de final de guerra, segundo o descrito acima, resolvi fazê-lo bem surrado, com manchas de óleo, fumaça e poeira, segundo referências fotográficas que consegui. Marcas, principalmente da fumaça dos exaustores (notadamente, muito forte) sujam toda a nacele traseira e também os estabilizadores em sua parte externa. Outras marcas de fumaça nas saídas dos canhões ventrais e muito óleo na parte inferior, onde há partes móveis.
Os decais da Tamiya são poucos e o avião não tem muitas marcações. Na parte inferior, só havia decais das cruzes com a borda branca e centro vazio. Por isso, apliquei os decais que tinha e com alguns restos de Letra-Set (dry-transfer) para preencher o meio das cruzes. O detalhe para a cruz do lado direito inferior, é que ele possui ainda uma borda externa preta, que só aparece no bordo de ataque, já que o fundo era preto; também feito com letra-set.
Durante o processo de uso, acabei estragando uma das marcações dos números do esquadrão. Tive que correr atrás de uma numeração G9+XX. O G9 era relativo ao Esquadrão de Caça Noturna 1 (NJG 1), cujo os brasões eu quiz manter. Com algum custo achei aviões que pertenceram ao esquadrão, além de ter as letras disponíveis em casa, sendo assim, ficou o G9+AK.
Passei um verniz fosco somente sobre os decais, para não dar contraste sobre a pintura. Na pintura não usei verniz, já que a tinta Duco deu um brilho bastante interessante.
CONCLUSÃO:
O modelo, apesar de não ser a minha escala, fica bastante bonito e a camuflagem exótica chama a atenção. E antes que perguntem, fui campeão da etapa com esse modelo.
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