A IDEIA:
Em fevereiro de 1999, estava impressionado com modelos na escala 1:32 vistos em uma exposição (embora já havia trabalhado com outras escalas (inclusive com aeromodelos), adotei por trabalhar somente com kits 1:72 por razões de espaço), lembrei-me que havia em meu "cemitério de kits" um modelo na escala 1:32 do MIRAGE V francês, muito antigo (da REVELL), que havia montado, sem nenhuma técnica, em 1980. O kit estava bem destruído (quando criança não sabemos da fragilidade destes kits) e havia sido pintado à mão, com tinta a óleo, sem se preocupar com refinamentos. Surgiu então a idéia de recuperar este kit montando-o no padrão atual, ou seja, com tintas a base de álcool e pintura com aerógrafo. Era um desafio, montava kits 1:72 desde criança, mas com técnicas próprias e estava sem montar desde 1997.
O desafio ficou maior depois de ler um artigo sobre a ISRAEL AIRCRAFT INDUSTRIES (IAI) relatando como Israel se "virou" para modernizar seus aviões MIRAGE, visto terem sofrido um embargo de armas imposto por vários países em 1967. Esta indústria modernizou o MIRAGE III, anteriormente adquirido da França, tornando-o um avião inteiramente novo, batizado de KFIR ("Leãozinho" em hebraico). Animei por fazer igual a IAI: transformar meu kit neste avião israelense fazendo o possível para detalhá-lo melhor, visto o mesmo ter poucos refinamentos; Estava lançado o desafio.
O PROJETO:
Não ia ser fácil, o KFIR é mais curto que o MIRAGE III / V, exigindo a redução do bocal de exaustão, dentre outras alterações estruturais como o nariz, painel, etc.
Inicialmente, fiz uma lista de itens a serem acrescidos / modificados no kit:
- Remover a tinta antiga do kit;
- Encurtar a fuselagem na parte traseira;
- Modificar da carenagem cônica da cauda;
- Furar a fuselagem em 6 pontos distintos para as entradas e saídas de ar de resfriamento;
- Criar a fixação do montante do motor na fuselagem, em ambos os lados;
- Furar na fuselagem, abaixo dos canards, as duas entradas de ar auxiliares (presentes no MIRAGE, porém no kit não existiam);
- Fabricar e acrescentar 2 dutos de entrada de ar de resfriamento (os maiores) no topo da fuselagem e 2 na parte de baixo do modelo;
- Acrescentar no kit dois dutos menores (também entradas de ar) localizados na lateral da fuselagem;
- Acréscimo da carenagem de ar na raiz da empenagem vertical;
- Reduzir a turbina francesa e modificá-la para se parecer com a J79 Americana;
- Criar um encaixe para fixar a turbina na parte traseira do modelo (a redução da fuselagem eliminaria este encaixe);
- Criar os canhões "DEFA 553" de 30 mm presentes tanto no MIRAGE como no KFIR, mas ausentes no kit que nem apresentava, ao menos, os furos de saída na parte inferior da fuselagem;
- Cortar a fuselagem (porção inferior) para alojar o canhão e furar seu respectivo orifício de saída (como no verdadeiro);
- Fabricar e acrescentar os dois canards na fuselagem;
- Remodelar totalmente a cabine do piloto (habitáculo, assento ejetável, painéis, aviônicos e comandos);
- Refazer as partes transparentes do modelo: Cobertura da cabine e pára-brisa que estavam opacas devido à cola de fusão usada em excesso na época (não serviam mais);
- Alongar o cone do nariz;
- Fabricar a haste do tubo de pitot principal;
- Acrescentar barbatanas dianteiras no nariz do modelo;
- Acrescentar duas sondas de pressão (tubos de pitot) À frente do pára-brisa;
- Acrescentar dois sensores de pressão na fuselagem (nas costas do modelo);
- Fabricar e acrescentar o dente no bordo de ataque das asas, localizados à meia envergadura, eliminando o dente em corte original do MIRAGE;
- Detalhar as caixas de rodas (as do kit não tinham detalhes);
- Refazer mais detalhado e reforçado o trem de pouso, conforme o do KFIR (que é diferente do MIRAGE), pois o do kit estava quebrado na ocasião;
- Detalhamento geral (antenas UHF, geradores de fluxo de ar na calda, pára-choque de calda, luzes de navegação, carenagem Doppler, receptor de alerta de visão frontal e algumas pequenas entradas de ar presentes no KFIR);
- Fabricar o cabide central do KFIR com capacidade para até 6 bombas;
- Reformular os outros cabides de armamentos tornando-os mais detalhados;
- Modificar os tanques extras de combustível para o padrão usado em 1983 nos aviões KFIR;
- Os dois mísseis AIM 9 B - Sidewinder estavam em péssimo estado e entre reformá-los e criar um modelo mais original, (o "PYTHON 3") optei pela 2ª alternativa;
- Fabricar os decais necessários para o KFIR (não tinha mais os decais originais para aproveitar alguma coisa);
- Nova pintura geral utilizando aerógrafo.
De início, optei por fazer a versão KFIR-C2 (a mais tradicional e conhecida), mas, pelo fato de possuir o desenho da cabine e painel de instrumentos oficial do modelo KFIR-C7, mudei de idéia e optei pela versão C7. Esta opção complicou um pouco a situação, pois o modelo C7 difere-se esteticamente do C2 pelo nariz mais comprido (pouca coisa devido ao radar ELTA EL 2021 B) e os dois suportes para armas,a mais, sob as entradas de ar, que gerariam mais trabalho na modificação do kit. Fora os contratempos iniciais, era hora do "mãos-à-obra". O tempo total, da concepção à finalização do projeto, levou 1 ano e 8 meses.
Segue a seguir, a descrição de cada etapa numerada acima.
ETAPAS DAS MODIFICAÇÕES E MONTAGENS:
ETAPA 1: RASPAR A TINTA ANTIGA
De início, optei por fazer a versão KFIR-C2 (a mais tradicional e conhecida), mas, pelo fato de possuir o desenho da cabine e painel de instrumentos oficial do modelo KFIR-C7, mudei de idéia e optei pela versão C7. Esta opção complicou um pouco a situação, pois o modelo C7 difere-se esteticamente do C2 pelo nariz mais comprido (pouca coisa devido ao radar ELTA EL 2021 B) e a existência de mais dois suportes para armas sob as entradas de ar, (estes adendos gerariam mais trabalho na modificação do kit). Fora os contratempos iniciais, era hora do "mãos-à-obra". O tempo total, da concepção à finalização do projeto, levou 1 ano e 8 meses.
A seguir, o detalhamento de cada etapa numerada acima.
ETAPA 2: ENCURTAMENTO DA FUSELAGEM TRASEIRA
Depois dos cálculos de escala e com o auxílio de uma furadeira elétrica com broca bem fina e amolada, cortei a fuselagem na parte traseira do kit e lixei devidamente, tendo cuidado para efetuar um corte em entalhe para não danificar o tanque de combustível ventral que termina no bocal reduzido.
ETAPA 3: MODIFICAÇÃO DA CARENAGEM CÔNICA DA CAUDA
A carenagem da cauda (que se encaixava sem colar para se destacar e expor a turbina) foi cortada com furadeira elétrica alongando a parte superior e cortada em baixo para se alargar e adequar-se ao novo diâmetro da fuselagem traseira. Foi lixada e seu encaixe testado, mas passaria a ser fixa (colada).
ETAPA 4: FURAR A FUSELAGEM EM 6 PONTOS DISTINTOS
Com o auxilio da furadeira elétrica, fiz furos na fuselagem em 06 pontos previamente estudados para encaixe das saídas de ar de exaustão do motor que foram fabricadas com chapas de alumínio.
ETAPA 5: FURAR O ORIFÍCIO DE FIXAÇÃO DO MONTANTE DO MOTOR
Calculada a posição correta, abri com a furadeira elétrica e micro-broca os furos laterais na fuselagem (um de cada lado), representando o fixador do montante do motor (presente no KFIR verdadeiro) que foram tampados do lado interno da fuselagem com uma pequena chapa de alumínio.
ETAPA 6: FURAR 2 ENTRADAS DE AR AUXILIARES
Estas entradas de ar auxiliares realmente existem tanto no MIRAGE como no KFIR, mas no kit não estavam presentes. Localizam-se abaixo dos canards logo atrás das entradas de ar principais. Usando broca de 4 mm, efetuei dois furos rentes formando um círculo bem oval em ambos os lados e lixei para igualar. As portas destas entradas de ar foram feitas com chapa de alumínio e coladas internamente, dando a impressão de estarem abertas num ângulo de 45º aproximadamente.
ETAPA 7: DUTOS PARA ENTRADA DE AR DE RESFRIAMENTO
No kit já existem dois dutos de entrada de ar que são pequenos, comparados com os dutos presente no KFIR, por isso não serviam ao propósito do ponto de vista estético e teriam que ser modificados. Estes dutos foram criados moldando a peça em papel e depois de ajustado (recortes para alcançar a escala correta), o molde foi transferido para a chapa de alumínio (riscado, cortado e dobrado), perfazendo um total de quatro peças iguais. Duas foram acrescentadas nas costas do modelo, sobre o duto original, que funcionou como guia e reforço para a colagem da peça no kit e duas na parte de baixo do modelo, utilizando o mesmo processo.
ETAPA 8: ACRESCENTAR OS 2 DUTOS MENORES
Mais abaixo dos dutos maiores (nas laterais da fuselagem), existem no KFIR, dois dutos menores que igualmente precisavam ser criados. Estes dois dutos foram confeccionados primeiramente em papel e transferidos para chapa de alumínio (mesmo processo dos dutos maiores) e acrescentados ao kit.
ETAPA 9: CARENAGEM DE AR NA RAIZ DA EMPENAGEM VERTICAL
O KFIR possui uma grande entrada de ar presente na raiz da empenagem vertical. Para confeccioná-la o serviço exigiu, antes de tudo, que fosse cortada a empenagem vertical na sua porção inferior (retirando a ponta frontal). A entrada de ar foi moldada em papel e ajustada em sua escala para ser então cortada em chapa de alumínio. (foi pintado internamente de preto fosco antes de ser fixada).
ETAPA 10: MODIFICAÇÃO E REDUÇÃO DA TURBINA
A turbina original do kit é a SNECMA ATAR 9C francesa que é mais comprida que a J79 americana e teria que ser reduzida e modificada para ficar semelhante. A redução se fez cortando a parte traseira, no duto do escapamento, retirando o excesso de comprimento, lixando e novamente unindo as partes. O bocal de exaustão da turbina é, externamente, muito parecido com a J79, mas senti a necessidade de detalhá-lo internamente. Para isto usei uma tira de alumínio cortada (como se fosse uma coroa) colando-a internamente ao bocal, acrescentando em cada ponta um pedaço de arame de clips previamente cortados e limados (16 ao todo). Ao pintar de preto fosco, o resultado ficou satisfatório dando a impressão de serem as diversas partes móveis do bocal de exaustão variável que trabalham regulando a saída do pós-combustor. O modelo de turbina que tentei adequar foi a J79-J1E empregada no KFIR-C7 (a mais possante de todas as versões da J79). O visual final ficou bem semelhante à verdadeira. Fiz um pequeno furo lateral no duto de escapamento para receber o parafuso que fixaria a turbina à fuselagem.
ETAPA 11: CRIAR ENCAIXE FIXANTE PARA TURBINA
Com a diminuição da fuselagem o encaixe original para fixação da turbina foi perdido. Era necessário criar um novo que centralizasse a turbina na fuselagem (mais larga) e que não necessitasse de se destacar a carenagem de cauda para retirar ou colocar a turbina (como era no kit do MIRAGE). Ao terminar a Etapa 03, a turbina já se encaixava por trás do kit sem que fosse necessário destacar nada. Seu "fixador" foi desenvolvido com pedaços de sprue colados e lixados. Fiz um furo na fuselagem para receber um pequeno parafuso (destes usados em relógio de pulso) que fixaria a turbina com o auxílio de uma pequena chave de fenda (destas usadas por relojoeiros).
ETAPA 12: CANHÕES "DEFA 553"
O kit não apresentava a abertura de saída do canhão, característica do MIRAGE, por isso, através de desenhos, decidi confeccionar o armamento utilizando arame, sprues, chapas de alumínio e pedaços de fio elétrico. Com o cálculo devido de escala, estes materiais resultaram no canhão DEFA 553. O curioso é que o pente de munição foi confeccionado usando um lacre de malote dividido ao meio, cujo resultado proporcionado ficou muito bom. Para o bocal do canhão usei um pedaço de tubo plástico (aquele que vem junto com as latas de óleo lubrificante em spray) onde, trabalhado com uma lâmina, criei o "quebra-fogo" no mesmo.
ETAPA 13: CORTE NA FUSELAGEM PARA ENCAIXE DO CANHÃO
Uma vez confeccionado o canhão, era necessário encaixa-lo na fuselagem. Esta não apresentava os furos de saída do bocal do canhão e tampouco a chapa de entrada que fica por baixo do MIRAGE / KFIR verdadeiros, mas a mesma estava entalhada em baixo relevo no kit. Com o auxílio de um estilete, cortei o baixo relevo destacando esta chapa da fuselagem (como no original). Com isto, poderia terminar o modelo para depois encaixar os canhões por baixo sem muito trabalho. OBS: Não era apropriado colar o canhão antes da pintura da fuselagem, pois ficaria difícil isolá-lo da tinta e também não se destacaria como um detalhe, visto só aparecer o bocal de saída do canhão para fora da fuselagem.
ETAPA 14: OS CANARDS
Com o auxílio de um desenho em 3 posições do KFIR, consegui calcular a área e respectiva escala dos Canards, que foram primeiramente desenhados e recortados em papel, para depois serem moldados em chapa de alumínio, lixados e colados na fuselagem usando cola branca (na minha opinião, este tipo de cola tem excelentes aplicações no plastimodelismo). Os canards estavam prontos para receber pintura, que seria conjunta com a fuselagem.
ETAPA 15: CABINE DO PILOTO
Foi o item mais trabalhoso. A cabine original do kit apresentava-se muito pobre em detalhes (para se ter uma idéia, o painel de instrumentos era composto de um simples decal) e a cabine do KFIR, por ser bem diferente da do MIRAGE, necessitaria ser modificada. De posse de uma fotografia bem detalhada do painel de instrumentos, trabalhei um novo painel usando uma chapa de alumínio (cortada em seu formato correto), e acrescentei outras partes pequenas (também em chapa de alumínio) moldando os instrumentos. Estes foram desenhados / pintados em papel, recortados e colados a cada "reloginho". Com chapas finas e transparentes de plástico acetado criei diversos "vidros" para os relógios. Desenvolvi um novo HUD (feito em alumínio, arame e plástico), nova coluna de comando (feita com sprue derretido), alças de disparo do assento ejetor (feitas com arame fino), novo assento ejetor com reguladores laterais, tecido, e cinto de segurança (usando esparadrapo). Mostradores coloridos como a tela de radar verde, foram confeccionados usando plástico de garrafa de refrigerante. O anteparo com os trilhos do assento ejetor foi feito com chapa de alumínio e fios de arame bem finos, dispostos paralelamente. Os pedais de leme foram confeccionados em alumínio e arame bem fino; as caixinhas de aviônicos foram aproveitadas de restos de kits 1:72, o acelerador foi modificado para um "T" usando sprue derretido; a placa de fundo da cabine foi alongada para vedar a separação existente entre cabine e sequência da fuselagem, tudo pintado alternando-se tinta fosca com brilhante, visando dar um bom efeito. A placa negra que cobre o painel de instrumentos central foi modificada conforme a do KFIR (que difere da do MIRAGE pelos dois tubos negros onde passam a fiação dos raios catódicos que geram a mira eletrônica).
ETAPA 16: PARTES TRANSPARENTES
As partes transparentes do kit estavam totalmente opacas provavelmente devido ao excesso de cola ou qualquer outro produto químico que reagiu nestas peças. Foram novamente confeccionadas usando a técnica do "Vacuo-form" utilizando-se chapas de plástico acetado transparente. Devidamente recortadas após o processo, foram isoladas (para pintura) a armação da cobertura e o pára-brisa, e posteriormente, foram confeccionados os detalhes: alça de fechamento (com arame), espelhos retrovisores (em plástico transparente) e trilhos de encaixe da cobertura da cabine. O pára-brisa recebeu dois detalhes em aviônicos (internos à cabine feitos com alumínio).
ETAPA 17: ALONGAR O CONE DO NARIZ
O nariz do kit do MIRAGE V apresentava-se curto em relação ao nariz do KFIR-C7. Calculando a escala percebi que o mesmo deveria ser alongado em 18 mm. Com um molde em papel posteriormente transferido para chapa de alumínio, cortei um retângulo que, devidamente enrolado na medida do diâmetro do nariz e colado com "Super-Bonder", foi encaixado entre a fuselagem e o nariz do modelo, sendo ajustado com Putty e lixado, resultando assim no alongamento do nariz.
ETAPA 18: HASTE DO TUBO DE PITOT PRINCIPAL
A haste do tubo de pitot original do kit estava quebrada, mas de nada serviria, pois a haste do KFIR é bem diferente do MIRAGE V no que diz respeito ao comprimento e localização (é encaixada embaixo do bico, no nariz do avião). De posse de um sprue submetido ao calor de uma vela (para amolecer o plástico), moldei uma nova haste do tubo de pitot que precisou de algumas lixadas para seu encaixe angulado no nariz do modelo. (Foram feitas seis hastes até conseguir uma satisfatória).
ETAPA 19: BARBATANAS DIANTEIRAS NO NARIZ DO MODELO
Observando um desenho, cortei estas barbatanas (localizadas no nariz do avião, bem próximas ao bico) em chapa de alumínio e, com uma pequena dobra, obtive área para cola.
ETAPA 20: SONDAS DE PRESSÃO À FRENTE DO PÁRA-BRISA
São duas no total, localizadas à frente do pára-brisa dianteiro do avião. Usei arame de clips devidamente cortado, dobrado e limado. Com o auxílio de uma agulha, furei dois pequenos orifícios na chapa de alumínio (a que alongou o nariz do modelo), onde pude encaixar estas peças (com cola). A título de curiosidade, estas peças tem a função de complementar os dados colhidos pelo tubo de pitot tradicional.
ETAPA 21: SENSORES DE PRESSÃO
O KFIR tem dois sensores de pressão localizados na parte de cima da fuselagem. Para o kit eles foram fabricados usando sprue derretido com auxílio de uma vela e devidamente moldado para posteriormente ser colado na fuselagem.
ETAPA 22: DENTE NO BORDO DE ATAQUE DAS ASAS
As asas do KFIR diferem-se das do MIRAGE pelo fato de possuírem um dente à meia envergadura que melhora a aerodinâmica em voo supersônico (o MIRAGE possui um dente em corte nas asas que criava um fluxo no delta, ajudando na sustentação). No kit os dois dentes em corte foram fechados com resina acrílica e lixados (poderia ser com putty, mas a minha tinha acabado na ocasião). Após isto, criei um molde em papel e depois transferi para a chapa de alumínio, originando o novo dente do bordo de ataque; bem pontudo e saliente à asa. Foram colados com cola de resina e novamente lixados.
ETAPA 23: CAIXAS DE RODAS
As caixas de rodas do kit da REVELL apresentavam-se com poucos detalhes para um kit 1/32, por isso decidi melhorá-las. Através de fotos pude detalhar melhor as caixas de rodas usando fios elétricos, borrachas e pequenos pedaços de alumínio devidamente cortados e pintados resultando em um aspecto bem melhor. Uma curiosidade é que as portas das caixas do trem de pouso traseiro foram presas com pequenas chapinhas de alumínio que proporcionaram um efeito "hidráulico", ou seja, elas têm suspensão própria. A caixa de rodas dianteira também foi fabricada em chapa de alumínio, colada internamente à fuselagem e também detalhada (embora não estejam visíveis tais detalhes devido a porta do trem de pouso estar fechada). Logo debaixo do trem de pouso traseiro foram coladas algumas peças plásticas (feitas com material de garrafas plásticas de refrigerante) e chapinhas de alumínio resultando nos cilindros hidráulicos e pistões de ar de recolhimento do trem de pouso.
ETAPA 24: TREM DE POUSO
O trem de pouso do KFIR difere-se do MIRAGE por ser mais reforçado para pistas de areia e para aguentar o maior peso em armamentos que o avião pode transportar. O trem de pouso do kit (dianteiro e traseiro) infelizmente estavam quebrados; necessitavam de reforma e reforço para igualar-se ao do KFIR (e também para suportar o peso do kit). Com cargas usadas de caneta "BIC", cortei os cilindros do trem de pouso traseiro e com chapinhas de alumínio, confeccionei as dobradiças da suspensão. Os braços hidráulicos foram feitos de arame de clips, juntamente com detalhes da fiação, feitas com arame bem fino e maleável. Utilizei cola de resina para unir o trem de pouso à fuselagem e testei se suportavam o peso final do kit. O trem de pouso dianteiro foi reformado usando chapa de alumínio com reforço triangular. Para a fiação do freio, utilizei arame bem fino. Os dois faróis dianteiros foram moldados com pedaços de sprue acrescidos de celofane e chapa de acetado transparente como lente e suporte feito com alumínio e "Super-Bonder". O conjunto final (caixa de rodas/trem de pouso) ficaram satisfatórios após a pintura.
ETAPA 25: DETALHAMENTO GERAL
Para uma qualidade melhor do resultado final, alguns detalhamentos gerais eram necessários como criar antenas UHF, geradores de fluxo de ar na calda, pára-choque de calda, luzes de navegação, carenagem Doppler, receptor de alerta de visão frontal e algumas pequenas entradas de ar. Fiz assim:
- Antenas UHF: Todas feitas em chapa de alumínio coladas com "Super-Bonder";
- Geradores de fluxo de ar na calda: Todos feitos em chapa de alumínio e colados com cola de resina;
- Pára-choque de calda: Feito em chapa de alumínio e colado com cola de resina;
- Luzes de navegação: As vermelhas foram feitas com plástico de lanterna de automóveis e a verde com plástico de garrafa de refrigerante;
- Carenagem Doppler: Já veio pronta com o kit do MIRAGE (peça nº 88) e não era usada no kit; precisou apenas ser lixada para diminuir um pouco seu tamanho; foi colada com cola de fusão e "calafetada" com cola branca;
- Receptor de alerta de visão frontal: Feito com tampa de caneta "BIC" (devidamente cortada);
- Pequenas entradas de ar: Feitas em chapa de alumínio pelo mesmo processo das entradas de ar maiores.
ETAPA 26: CABIDE CENTRAL DE BOMBAS
O cabide central de bombas original do kit teve que ser todo reformulado para o padrão usado pelo KFIR. Para isto, cortei-o em 3 pontos eliminando a parte traseira e as duas restantes deixadas à parte. Com pedaços de sprue colados, preenchidos com putty e devidamente lixados, moldei seis suportes individuais para as bombas. Estes suportes receberiam posteriormente duas pequenas chapas de alumínio furadas nas pontas e com pequenos pedaços de arame de clips colados, resultando nas pinças para trava das bombas. Com fios bem finos e pequenos pedaços de arame, fabriquei os conectores elétricos de cada suporte das bombas. Com um sprue mais largo, confeccionei a parte inferior do cabide central (que é levemente arredondado) colando-o no cabide em sua porção inferior, observando a separação existente. Após a secagem, preenchi o conjunto com putty e apliquei lixa para igualar. Com uma lima confeccionei dois entalhes na parte superior do cabide para receber duas travas transversais que fixam o mesmo à fuselagem. Estas travas foram feitas com sprue devidamente lixado, para dar o formato necessário à fixação. Este cabide teve um trabalho "artesanal", mas apresentou um resultado impressionante em detalhes.
ETAPA 27: OUTROS CABIDES DE ARMAMENTOS
Os outros cabides de armamentos (06 no total) são:
- Portas mísseis e atuador do elevon: já vieram prontos no kit, só necessitaram de lixa e separação apropriada;
- Porta-tanques de combustível: foram retirados de dois lançadores de foguetes SNEB que vieram junto com o kit original. Os pontos de fixação dos tanques foram confeccionados com chapas de alumínio e pintados de preto fosco.
- Cabides extras: são presentes somente no KFIR-C7 e localizados abaixo das entradas de ar principais. No kit original vieram dois cabides para bombas que deveriam ser colocados logo atrás do cabide central (lateralmente) na versão do MIRAGE Israelense (o kit da REVELL permitia montar uma versão francesa ou israelense). Estes cabides receberam lixa para reduzir e adequar-se no tamanho. Posteriormente, foram adicionadas duas pequenas chapas de alumínio furadas nas pontas e com pequenos pedaços de arame de clips colados, resultando nas pinças para trava das bombas. Todos os cabides foram colados com cola de fusão comum.
ETAPA 28: TANQUES EXTRAS DE COMBUSTÍVEL
Os tanques de combustível originais do kit eram do tipo "supersônico" com capacidade para 500 litros e com cabides de fixação próprios. Embora esses tipos de tanques também eram usados pelo KFIR, decidi mudá-los para um padrão também muito usado pelos israelenses: capacidade de 550 litros com aletas laterais para melhor o fluxo de ar e cabide de fixação à parte. A confecção dos cabides já havia sido solucionada na Etapa 27, e os cabides originais dos tanques foram separados e corrigidos nas imperfeições utilizando massa putty. As aletas laterais foram feitas com molde em papel e posteriormente cortadas em chapa de plástico acetado. Utilizei Super-Bonder para colar.
ETAPA 29: MÍSSEIS AR-AR
O kit do MIRAGE apresentava dois mísseis SIDEWINDER (AIM-9B) que estavam em péssimo estado de conservação e necessitando de uma reforma. Como estava fabricando um "C7", e este normalmente, leva mísseis de fabricação israelense, optei por criar o modelo de míssel chamado "PYTHON 3" (o mais moderno "ar-ar" israelense na época). Para criar este míssel, necessitei de literatura especializada em armamento ar-ar. Com os dados necessários, iniciei à fabricação propriamente dita: Com cargas vazias de caneta esferográfica (as do tipo plástica, mas de acabamento refinado), consegui fabricar o "corpo" do míssel respeitando o diâmetro e comprimento corretos; com moldes em papel, cortei em chapa de plástico acetado, as quatro aletas traseiras e 4 dianteiras do míssel, sendo que os estabilizadores giroscópicos (os famosos "torvelinhos") foram fabricados com chapa de alumínio e também as bases das oito aletas, tudo colado com cola de resina e "Super-Bonder". Os detectores infravermelhos foram feitos com chapa de plástico acetado transparente, devidamente lixados e colados com cola de resina. As travas para cabides foram confeccionadas com chapa de alumínio devidamente encurvadas no diâmetro correto e coladas para receber a pintura final. No bocal de exaustão do míssel introduzi uma peça cruciforme pintada de preto fosco, imitando a grade de saída.
ETAPA 30: DECAIS
Este item necessitou de atenção especial devido, na época, não existir à venda no mercado de kits, decais especializados para a escala 1/32 desta versão (existiam muitas variedades para outras escalas). Era, pois, necessário "criar" estes decais de algum modo. Primeiramente tentei contato com firmas fabricantes de decais na esperança de se encomendar, em caráter especial, os decais necessários para este modelo. Firmas como a FCM e AEROBEL alegaram ser inviável a fabricação dos mesmos devido ao alto custo por fotolito para confecção de apenas uma folha, mas ambas indicaram um meio de criar decais a partir de um papel especial para impressora. Um plastimodelista veterano (amigo meu) indicou uma firma americana (MICRO-MARK) dizendo que a mesma vendia este papel especial para decais. Explicou-me sobre desenhos feitos no computador e depois impressos neste papel usando impressora laser.
Fiz contato com a empresa americana e adquiri o papel especial. Agora, precisava desenhar os decais israelenses para o modelo. Deparei-me com dois problemas: conseguir um programa de computador eficiente para desenho e conseguir alguém para traduzir "Hebráico".
Com algum trabalho, consegui emprestado o programa "COREL DRAW 8.0" e iniciei a confecção dos desenhos, feitos acompanhando fotos originais, com o devido cálculo de escala. Para as traduções, contactei uma professora de Hebráico que, gentilmente, traduziu as marcações necessárias. Acredito que no final, obtive um excelente trabalho nos decais.
OBS: O papel adquirido era transparente, sendo que, para as partes brancas, foi necessário dar "fundo" no decal com tinta branca e depois selar com verniz (para não se desmanchar quando molhado). É importante salientar que o problema citado na Etapa 1 foi sanado desenhando, na mesma folha de decais, os detalhes perdidos na retirada da tinta antiga, sendo aplicados em seus devidos locais, minimizando o problema.
ETAPA 31: PINTURA
O KFIR dispõe de três tipos de pintura: a cinza de superioridade aérea, a camuflagem em 2 tons (areia e marrom) para uso no deserto; e a camuflagem em 3 tons (areia, marrom e verde) usada pela ISRAEL DEFENCE FORCE como camuflagem tática padrão (talvez a mais usada). Optei pela camuflagem em 3 tons por questões de gosto; foram usadas tintas acrílicas e vernizes da HOBBY CORES© aplicadas com aerógrafo de ação simples (modelo BADGER 250.4) e pincéis diversos. A pintura utilizou a técnica da "máscara suspensa".
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Como em todo grande projeto, houve acidentes, falhas e omissões que, por motivos diversos, não deram ao kit um acabamento digno de um "MASTER", contudo, servem de incentivo para nós modelistas, cada vez mais, inovarmos e improvisarmos, aprendendo uns com os outros, técnicas que difundidas, vão tornar este Hobby, um interessante e sadio passatempo para todos, por muitas gerações.
AGRADECIMENTOS:
Sr. RODRIGO EDUARDO OLIVEIRA: PELO PROGRAMA "COREL DRAW";
Sra. GREYCE GUZ: PELAS TRADUÇÕES EM HEBRÁICO;
COPIADORA BRASILEIRA: PELA QUALIDADE DA IMPRESSÃO À LASER;
AEROBEL: PELA ATENÇÃO E SUPRIMENTOS;
Sr. GOETHE BARROSO (PLASTIMODELISTA VETERANO): PELAS DICAS E TÉCNICAS;
MINHA NOIVA NEUZA E MEUS IRMÃOS: PELO INCENTIVO E PACIÊNCIA.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COLEÇÃO: AVIÕES DE GUERRA, EDITORA NOVA CULTURAL, 1985/1989;
COLEÇÃO: GUERRA NOS CÉUS, EDITORA RIO GRÁFICA, 1986;
COLEÇÃO: TUDO SOBRE AVIÕES DE COMBATE, EDIÇÕES ALTAYA, 1997;
LIVRO: MÍSSEIS AR-AR E ANTITANQUE, EDITORA NOVA CULTURAL, 1986;
REVISTA: ESPORTE MODELISMO, EDITORA AERO, 1984.
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