UM POUCO DE HISTÓRIA...
O Demoiselle (do Francês: "Libélula") era um monoplano de pequeno porte, com motor dianteiro e hélice bipá girando no bordo de ataque de uma asa alta, com forte diedo. Baseado num contorno poliédrico, o leme e estabilizador compunham uma única peça que se movimentava para todas as direções graças a um engenhoso dispositivo em cruz acionado por cabos.
Do modelo 19 ao 22, o comando era composto por um volante ligado a cabos que movimentavam o conjunto leme/estabilizador. Todos os cabos de sustentação da asa e reforço de estrutura eram cordas de piano. O piloto se sentava abaixo da asa, logo atrás das rodas.
Construído em apenas quinze dias, o Demoiselle nº 19 tinha como fuselagem uma única haste de bambu, com seis metros de comprimento, e asa formada por uma estrutura plana e simples.
O motor a gasolina, de 20 hp, refrigerado a água, tinha dois cilindros opostos. Foi projetado por Santos Dumont e construido pela fábrica Dutheil & Chalmers. Possuia um estabilizador na frente e embaixo do avião e dois lemes laterais situados logo abaixo da asas. Estes itens foram abandonados posteriormente, pois não contribuiram em nada para aumentar a estabilidade em vôo.
O Demoiselle nº 20 foi uma alteração do 19; A asa foi redesenhada (ainda mantendo o perfil plano) visando aumentar sua resistência e o motor "Antoniette" de 24 hp foi colocado na parte de baixo, entre as pernas do piloto, transmitindo o torque à hélice por meio de uma correia. Este ainda apresentou problemas na estrutura e também baixa potência fazendo com que Santos Dumont realizasse mais algumas alterações, originando o nº 21. Neste, a fuselagem triangular composta por três hastes de bambu e uma asa mais moderna, tornou o modelo mais resistente e de maior envergadura, além de reduzir o comprimento do avião. Neste modelo, o motor voltou a ser instalado sobre as asas, atuando diretamente sobre a hélice.
O projeto do nº 22, era basicamente igual ao nº 21. Nele, Santos Dumont fez experimentos com vários motores de cilindros opostos e refrigerados a água, com potências variando entre 20 e 40 hp, motores estes construídos por "Dutheil & Chalmers", "Clément" e "Darracq". Com qualidades bem satisfatórias para a época, o Demoiselle foi produzido em quantidade, visto que Santos Dumont jamais requereu patente por seus inventos, deixando à disposição as plantas e desenhos dos modelos. Santos Dumont não patenteou suas invenções pois queria popularizar o avião, deixando os interessados livres para fabricá-lo. O Demoiselle tornou-se assim, o primeiro avião popular.
Santos Dumont apresentou um exemplar do Demoiselle na Exposição Aeronáutica de Paris, realizada no Grand Palais, em Dezembro de 1907. Obteve o primeiro brevê de aviador, fornecidopelo Aeroclube da França em Janeiro de 1909. Em Setembro deste mesmo ano, estabeleceu o recorde de velocidade voando o Demoiselle a 96 km/h. Fez ainda um vôo de 18 km, de Saint Cyr ao castelo de Wideville, considerado o primeiro "reide" da história da aviação. Popularizado na França, outros países como Estados Unidos, Alemanha e Holanda também construíram o Demoiselle.
O MODELO...
Construído em escala 1:21, este Demoiselle "Scratch" prova que é possível construir um modelo destes com materiais domésticos, simples e recicláveis. Na verdade não gastei nada com ele. Usei materiais como clips, espetos de churrasco, palitos de dente, pás de sorvete, canudinhos, pet de refrigerante, rodas de um brinquedo quebrado, papel de seda, esparadrapo, carga de caneta vazia, molas de caneta, cola branca e cianoacrilato. Os cabos foram obtidos desmontando um potenciômetro de um rádio de pilha quebrado, mas poderia ser uma simples linha de costura diante da escala utilizada.
O motor foi baseado num "Darracq" de 30 CV de 2 cilindros opostos, utilizado nas versões "pós 22" fabricadas em 1910. Trata-se de um simples motor elétrico 1.5V adaptado a uma engrenagem redutora 1:4 obtidos de um brinquedo quebrado. A estrutura é feita usando madeira de pás de sorvete e corpo de caneta simples mais pedaços de canudinhos para os tubos de escape. Tudo pintado com tinta acrílica preta fosca e dourada. A hélice foi confeccionada usando uma tira de pet de refrigerante, cortada e moldada no fogo de vela. O spinner é uma borracha de seringa de injeção. Tudo pintado com tinta marrom (FS30140).
O tanque de combustível foi confeccionado usando alumínio de latas de cerveja, cortados, moldados e colados com cianoacrilato. A tampa do tanque é feita da madeira de pás de sorvete. Pintei de dourado para simular o cobre utilizado neste tipo de tanque.
A estrutura é simples. Montada sobre a planta, as estruturas triangulares centrais se unem com cola branca às três longarinas (tudo feito com espeto de churrasco). O leme/estabilizador é montado também com cola branca, usando palitos de dente devidamente cortados. Antes de unir as partes do conjunto, o leme e estabilizador são entelados usando uma única folha de seda branca simples (aquela de cadernos) que antes passou pela impressora do computador, imprimindo as marcações usadas no leme. Com tudo esticado sobre a mesa, colei a estrutura na folha (do lado contrário da impressão), e repeti o processo depois de cortar o leme, usando um estilete. As pontas são unidas com cola branca, obtendo-se um acabamento bem realista.
Este modelo é baseado numa versão melhorada do Demoiselle 22, suprimindo o volante e usando duas colunas de comando laterais (leme e estabilizador). A torção nas pontas das asas para simular os ailerons existia mas não foi usada neste modelo. Todo o acabamento dos cabos é feito com alfinetes comuns que nem precisam ser pintados. O assento em madeira é pintado de marrom (FS30140) juntamente com os apoios de pés (são apenas apoios no verdadeiro, não acionam nada!) e colunas de comando. Preocupei-me em usar amarras nos comandos e junções, visando obter o realismo da época.
A asa é fabricada com quatorze raizes em papelão (sete para cada lado) com corda baixa e bordo de ataque e bordo de fuga simples, interligados por quatro longarinas feitas com espeto de churrasco. A junção central em "V" é feita de cabo (tubo plástico) de pirulito inclinado mediante fogo de vela, fazendo com que o conjunto adquira a inclinação adequada.
Tive dificuldades para achar uma roda adequada: duas rodas de bicicleta com raios metálicos. Muita gente acha que Santos Dumont usou rodas de madeira, mas isso não procede. Podemos ver pelas fotos da época que o Deimoselle usava rodas de bicicleta (pneu de borracha e aro metálico). Um brinquedo velho e quebrado de minha filha resolveu o problema: depois de pintado de preto fosco e alumínio, o resultado ficou similar ao verdadeiro.
CURIOSIDADES...
Quem me conhece sabe que o meu negócio é a aviação militar. Mas este projeto do Demoiselle figura em minha lista de pretenções a uns cinco anos ou mais, desde que conheci este avião.
Decidi tornar o sonho verdadeiro agora, coincidindo com o centenário do vôo do Demoiselle. De certa forma, é minha homenagem a Santos Dumont: "o pai da aviação". Diferente de um plastimodelo, algumas técnicas são imprescindíveis na sua construção: balanceamento de hélice, cálculo de resistência estrutural, comandos móveis (as alavancas de comando realmente funcionam no modelo!) o que torna necessário certo conhecimento em aeromodelismo para aplicar, caso o objetivo seja fazê-lo voar.
Voar? Eu explico: Originalmente, fiz a planta destinada ao aeromodelismo, com o modelo final destinado a voar mesmo. Notem que o modelo tem um efeito estático muito bom, e se conectar uma bateria de 3.6 V nele o bichinho chega a taxiar no chão, ganhando certa velocidade (e isso pelos seus próprios meios!) Não testei, mas com 9 ou 12 Volts, acho que ele chega a decolar. De qualquer forma, sou plastimodelista e o objetivo deste Scratch é 99% estético e estático.
Mas, se alguém se habilitar, estou disponibilizando a planta que eu mesmo fiz em um arquivo para download, feito em Corel Draw 11. Planta suficiente para construir um Demoiselle igual a este. Se alguém conseguir fazer voar nesta escala, por favor me avise!
Você pode pesquisar na internet o Demoiselle de Santos Dumont. As plantas e desenhos disponíveis são incrivelmente didáticos e mostram como o avião evoluiu no quesito de comandos e funcionalidades.
Este modelo possui 29 cm de comprimento e 27 cm de envergadura. A construção durou em torno de 4 meses e foi muito divertido fazê-lo! |