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Efeito "Hélice Girando" nos modelos

Sempre estou vagando pela WEB observando ótimos trabalhos em acabamento e originalidade em diversos kits. Como conseqüência, aprende-se muito, tanto no "correto a se fazer" quanto no "incorreto a se fazer" comprovando o que vivo dizendo: "Nem tudo que se vê na internet tem conteúdo confiável. Saiba diferenciar as informações válidas das inválidas" (isso vale não só para o plastimodelismo).

Numa dessas visitas tive a oportunidade de ler um texto de um blog americano, onde o autor declara que tentar representar um modelo estático "em vôo" é perda de tempo e em alguns casos é até "burrice" expor em competições um modelo nessa condição, pois não há realismo.

Fiquei pensando: "Nas exposições é realmente raro ver um plastimodelo em vôo... Será que é pelo fato do pessoal não saber representar com realismo um modelo em vôo"?

Foi pensando nisso que neste tutorial decidi mostrar que é possível sim retratar um modelo estático em vôo com um grau de realismo razoavelmente agradável. Não é uma missão difícil, mas primeiro temos que entender alguns conceitos do universo do plastimodelismo relacionado ao visual de um modelo: Geralmente criamos um kit com o objetivo de torná-lo o mais fiel possível ao seu equivalente real (1:1) e se o resultado final deste kit pronto confundir o observador levando-o a pensar que é o modelo real (e não um "brinquedo"), então seu trabalho ficou bom. Baseado nessa premissa, concluímos que o julgamento de quem estudou e montou o kit (geralmente Você) não tem validade como "palavra final" para efeito de competição, mas sim a opinião do "observador", seja ele Juiz ou mero expectador, ele é quem terá o "veredicto" quanto ao seu resultado final. Pense bem: uma pessoa que não sabe o "trabalhão" que você teve para retratar as peças e pintar o modelo pode em segundos destruir seu resultado com uma percepção ou comentário negativo relacionado a algum detalhe (quem nunca viveu isso na pele em concursos e exposições?). Você pode estar pensando: "Mas eu monto para mim mesmo!? Sim! Essa é a idéia da diversão, mas se um dia você quiser saber realmente o que outros pensam do seu trabalho, então terá que competir para descobrir.

Conjecturas à parte, retratar um modelo "em vôo" sem o devido realismo pode causar a perda de pontos que fariam a diferença numa competição, por isso tenha em mente que aos olhos do observador, um kit estático é uma "fotografia" de um aparelho real que poderia estar parado ou em movimento, mas lembre-se que numa fotografia nada está em movimento, daí se o aparelho real apresenta peças "em movimento" registradas pela foto, tal movimento obviamente deveria ser aplicado também ao plastimodelo, deixando-o fiel ao aparelho real e convencendo assim o observador que sua retratação refere-se a um "movimento".

No aeromodelismo (categoria "Escala") os movimentos do aeromodelo têm que seguir os padrões do aparelho real, valendo-se de solenóides e motores elétricos (ou a combustão) para retratar o movimento, mas nos nossos kits estáticos a "conversa" é outra e tal tarefa é vista como quase "impossível" a não ser que o modelista opte pelo auxílio de mini-motores que aplicariam movimento às peças. Até já vi plastimodelos assim (assista o vídeo no link YOUTUBE logo abaixo), mas convenhamos: adaptações elétricas são razoavelmente viáveis em escalas grandes como a 1/24, 1/32 ou 1/35, mas é extremamente difícil (embora possível) compor escalas menores com micro-motores elétricos e adendos eletrônicos... Tudo bem! É uma idéia, mas "Eletrônica" não é o que vou mostrar aqui.

https://www.youtube.com/watch"v=bPQA3f4Dnz4

No plastimodelismo devemos nos focar no "estático". No caso de aviões à jato, obviamente não vemos peças "em movimento", bastando colocá-lo numa base e com isso teríamos uma representação do quesito "em vôo". Mas e os aviões à hélice" Como representar visualmente um avião à hélice no quesito "em vôo"?


Modelo de um avião a jato em vôo (neste caso não temos uma hélice a retratar, ficando mais fácil representar o modelo em vôo).

Geralmente temos uma gama muito grande de modelistas que optam por montar kits oriundos da 1ª e 2ª Guerra Mundial, fato que, se o modelista optar por retratar o modelo "em vôo" este ficaria exposto com suas hélices paradas, pecando em realismo final.


Bela montagem de um B-17 em vôo que pecou em realismo pelo fato das hélices não representarem "movimento"...

Expor um modelo "em vôo" deve partir do princípio que propõe um Diorama ou Vinheta: "Uma foto do acontecimento". Algo como se fosse um observador batendo uma chapa (que estaria em "3D") de um determinado instante do acontecimento (no caso de um avião à hélice basicamente seria ele no ar, com suas hélices girando e opcionalmente com suas rodas recolhidas).

Avaliando fotos de aparelhos reais em vôo, podemos ter uma noção do que uma foto retrata estaticamente:

Peguemos por exemplo um avião Spitfire MK XII. Na foto abaixo você o vê em vôo. Você consegue ver seu spinner, mas não vê as pás das hélices pelo fato delas estarem girando...


Um modelo bem representado deste avião em vôo normalmente ficaria assim...


Mas no modelo acima as pás estão visíveis e não estão girando, dando a impressão de que não está voando (como a foto do Brasília C-97 abaixo: a idéia é representar o modelo em vôo, mas as hélices paradas não ajudam o observador a acreditar neste "efeito")...


Agora observemos as fotos de um B-29 real em vôo e de um F4F-4 em vôo: O que se percebe nas imagens quanto às hélices?



Percebe-se uma espécie de "esfumaçado" ao redor do spinner. E avaliando a foto abaixo (contendo dois aviões diferentes em vôo) reparamos mais um detalhe: o "esfumaçado" é proporcional a quantidade de pás que a hélice de determinado avião foi projetado para usar (exemplo: hélice bi-pá, tri-pá, quadri-pá, etc.)...


O Spitfire voando na parte de cima da foto usa uma hélice tri-pá e o Fairey Firefly voando abaixo usa uma hélice quadri-pá visíveis pelos "esfumaçados" da foto...


Os diversos tipos de hélice existentes podem ser classificados pela quantidade de pás que possuem...

Por último, perceba que o YAK-3 da foto abaixo apresenta os tais "esfumaçados" com suas pontas também esfumaçadas numa cor destacante...


Geralmente nos aviões as pontas das hélices são pintadas de uma cor destacante para se enxergar os "limites" de sua rotação evitando acidentes de uma aproximação desatenta...

Aí estão, portanto, os pontos a se abordar quando se for retratar a hélice girando em um plastimodelo "em vôo". Mas como retratar isso estaticamente?

Vamos às táticas geralmente praticadas na representação de um modelo em vôo:

  1. Há quem prefira remover as hélices deixando somente os spinners. Tal tática foi muito usada nos anos 70, mas ainda dá duplo sentido ao observador: estão girando ou não estão presentes"


    Modelo sem as pás das hélices para denotar o estado do "em vôo". Essa foi a primeira técnica para simular o realismo visual de um modelo em vôo.

  2. Nos final dos anos 90, algumas idéias fluíram e hélices customizadas foram criadas para tentar compor o detalhe do "Em vôo". Basicamente trata-se de um PE (Photo Etched) de "lâminas" as quais o modelista substitui as pás da hélice do seu modelo por elas e as pinta conforme o modelo...




    Idéia bacana, entretanto essa técnica apresenta problemas de unificação e o resultado fica bom somente em alguns ângulos de visão. Peguemos por exemplo um Avro Lancaster cujo modelista usufruiu dessa técnica...


    Olhando a foto acima o resultado ficou bom, mas vamos ver o modelo mais de perto...


    Nessa foto, nota-se algo "estranho" na hélice, pois o contorno das pás parece estar "maciço" ao invés de esfumaçado (e realmente está, pois o PE é maciço e mesmo com a pintura continuará maciço)...


    Já na foto acima, o mesmo modelo não denota muito estar em vôo, pois o efeito tridimensional do recurso das hélices customizadas se projeta aos olhos do observador somente em ângulos frontais...


    Na foto acima o P-40 apresenta melhor representação do efeito "em vôo" que o BF-109 pelo fato do ângulo que a foto foi tirada...

    Outro agravante é que os PEs das hélices customizadas são feitos genericamente conforme a quantidade de pás de uma hélice (e não pelo modelo do avião retratado), ocorrendo assim (mesmo estando na escala correta), divergência nos tamanhos que fatalmente afetam o resultado final...


    Note na foto acima a divergência de tamanho de uma hélice customizada com a hélice original do kit...

    Pessoalmente penso que as hélices customizadas têm seus "prós e contras", sendo o custo o mais proibitivo deles (além dos outros pontos que mostrei acima). Mas gosto é gosto e o modelista pode achar interessante o custo/benefício desta técnica.

  3. Com a chegada do 2º milênio, presenciei modelistas apresentando trabalhos que eram compostos por discos transparentes no lugar das hélices. Visualmente não há como negar que dá um resultado melhor principalmente em ângulos diferentes. Observem o P-38 das fotos abaixo...



    O disco transparente é uma opção que não se distorce no resultado visual quando observado de ângulos diferentes...

    As três técnicas acima são interessantes para uso, mas ainda faltava algo para melhorar o realismo da hélice, daí pense numa técnica que fundisse todas as três aplicações descritas acima em uma só: o spinner mais destacado que as pás (visto na 1ª técnica descrita), a forma sólida customizada da hélice em movimento da 2ª técnica descrita e o efeito de giro do disco transparente visto na 3ª técnica.

    Recentemente, minha filha de 11 anos (minha companheira de interesse nas montagens de kits) me questionou se ela poderia tentar construir um modelo. Obviamente nunca negaria um pedido desses, mas acho um "pecado" deixar um kit novo nas mãos de uma criança sem um devido "treinamento básico". Daí, para lidar com tal desafio e também para evitar uma experiência frustrante em sua 1ª montagem (sem acompanhamento e dicas), decidi ajudá-la.

    Com isso, fui até meu "cemitério de kits" e achei lá os restos mortais de um Revell EC-121T Constellation na escala aproximada de 1/23 (uma antiga sucata que o fabricante alega ser na escala 1/28). Estava incompleto sem o trem de pouso e as hélices haviam se perdido também. Decidi que esse seria o kit o qual ela começaria seu "treinamento" e me pareceu que ela também gostou do modelo, ao julgar pelo seu sorriso ao vê-lo.

    Com este kit, eu teria a oportunidade de ensinar minha filha e, de quebra, usá-lo como "cobaia" para a técnica que batizei de "Efeito Hélice". Já que o kit da minha filha não tinha hélices nem rodas, consegui convencer ela a montá-lo na opção "em vôo".


    Caixa do kit do EC-121T Revell usado neste tutorial...

    A técnica consiste assim: Monte o avião normalmente sem as hélices e spinnes e o coloque numa base elevada (Regra: se está numa base elevada, então está "em vôo")...


    Modelo do avião basicamente montado sem as hélices, aguardando pintura geral...

    Com a ajuda da peça da hélice do próprio kit ou usando as dimensões da hélice obtidas de manuais do aparelho (como ocorreu com o kit em questão) tome conhecimento das dimensões da circunferência (diâmetro de giro da hélice) e calcule seu tamanho proporcional à escala do kit. Recorte círculos de papel com essas medidas, furando o centro de cada um para fixar ao modelo com alfinetes ou algum "eixo" que os mantenha lá no motor...


    Refaça novos testes se necessário, entretanto, se as dimensões já estiverem corretas, use os círculos de papel como moldes para recortar os mesmos círculos em plástico transparente (eu uso plástico transparente das embalagens de brinquedo que minhas filhas ganham). Teste novamente no modelo para ver o resultado...



    Você pode aproveitar os spinners do próprio kit (removendo as pás) ou fazer novos com sprue (que foi o caso deste EC-121T)...


    Fixe eixos nos spinners e introduza-os no furo central do disco de plástico transparente...



    Em seguida recorte a quantidade de máscaras necessárias ao número de hélices que precisar mantendo-as do tamanho do disco transparente, porém vazadas em proporções "triangulares" e na quantidade de pás de hélice que o modelo real utiliza (neste EC-121T são três pás por hélice)...


    Aplique as máscaras por cima dos discos transparentes e usando uma cor acrílica escura (eu usei o NATO BLACK) com o aerógrafo dê uma borrifada rápida no disco transparente de forma a apenas "esfumaçar" o disco nas aberturas da máscara...



    Minha filha aplicando a fina camada de tinta no disco transparente...

    Por fim, remova a máscara, crie novos discos de papel um pouco menores e centralize aos discos já pintados de forma a aplicar a mesma técnica de pintura apenas nas pontas do disco plástico (Entenda melhor observando o esquema abaixo)...


    Pintados os discos, cole-os no modelo (recomendo colar somente o eixo deixando os discos soltos para possibilitar girá-los de forma a mudar o alinhamento dos esfumaçados e também para poder regular o alinhamento lateral). O resultado das 03 técnicas numa só fica muito bacana e é bem realista em qualquer ângulo que seja visto pelo observador (avalie nas próximas fotos o resultado do avião da minha menina com essa técnica aplicada)...








    Como podem ver, a técnica é simples, barata e o resultado visual é muito bom! Espero que este tutorial seja útil aos que desejarem construir um modelo "em vôo"!

    Até a Próxima!

    Texto:

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